Mamografia sem dor: pesquisadores brasileiros criam aparelho mais barato e menos invasivo para rastrear câncer
22/05/2025
(Foto: Reprodução) Aparelho desenvolvido por pesquisadores da USP e do Instituto Federal de São Paulo permite rastrear câncer de mama de forma menos dolorosa e sem risco à saúde. Aparelho brasileiro permite rastrear câncer de mama de forma menos dolorosa
Já pensou poder rastrear câncer de mama sem precisar ter o peito esmagado? Essa é a proposta de um aparelho desenvolvido por pesquisadores da USP e do Instituto Federal de São Paulo. (veja no vídeo acima)
"Esse método de realização de imagem é baseado num sistema que é muito parecido com o radar, igual a gente tem para ver os aviões, né? A gente transmite um sinal e pega o sinal retornado utilizando ondas eletromagnéticas", explica Bruno Sanches, professor da Poli-USP.
Funciona mais ou menos assim: primeiro, o protótipo emite esse pulso eletromagnético, que atravessa a pele e identifica as diferentes densidades dos tecidos que compõem a mama. Aí esse sinal retorna com as informações, que são então gravadas em um microchip. Por fim, um algoritmo decodifica esses dados para gerar um mapa que mostra onde está esse possível tumor.
A mamografia é um exame essencial na prevenção do câncer de mama.
Daniel Viana/Semsa
Segundo o professor, o método é vantajoso especialmente para mulheres com seios densos, que dificultam a detecção de tumores por meio da mamografia.
"Isso é bem comum em mulheres mais jovens, então esse tipo de sistema teria essa vantagem", diz Sanches. Uma vantagem considerável, especialmente num ano em que a agência nacional que regula os planos de saúde propôs uma mudança importante no rastreamento do câncer de mama – o mais comum entre mulheres de todas as regiões do Brasil.
Antes, a recomendação era que a mamografia fosse feita anualmente a partir dos 40 anos. Agora, a agência reguladora propõe a realização do exame a cada dois anos, a partir dos 50.
Embora se trate apenas de uma recomendação, entidades médicas, pacientes e o Conselho Federal de Medicina temem que ela seja usada como argumento para planos de saúde negarem o acesso de mulheres mais jovens ao exame. O que dificultaria a detecção dos tumores em estágios iniciais, diminuindo o sofrimento e aumentando as chances de sobrevivência.
Mas voltando ao protótipo, existe uma vantagem importante em relação ao mamógrafo tradicional. O dispositivo utiliza ondas eletromagnéticas – e não raios-X, que podem ser prejudiciais à saúde.
"São ondas às quais a gente já está exposto no cotidiano. Igual às do nosso celular, por exemplo, do nosso micro-ondas lá da cozinha, do nosso bluetooth", diz o professor.
Ou seja, caso necessário, esse exame pode ser feito com uma frequência bem maior – e sem risco à saúde. Ainda assim, o objetivo aqui não é substituir a mamografia, mas sim complementá-la.
"Assim como a gente tem a mamografia, o exame de ultrassom, a ressonância magnética e algumas outras alternativas, essa poderia ser mais uma forma para se fazer esse tipo de acompanhamento", afirma Sanches.
Este não é o primeiro mamógrafo no mundo a utilizar essa tecnologia. Nem o mais avançado. Já tem país lá fora em fase de testes clínicos, o que ainda não é o caso por aqui. Mas dá para dizer que esse protótipo é definitivamente o mais barato. Para produzir um desses aqui, são desembolsados mais ou menos 175 dólares. Já um mamógrafo tradicional pode custar de 65 mil a 240 mil dólares.
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Outra vantagem é a mobilidade do aparelho, que poderia ser facilmente transportado para áreas remotas, em que o acesso a hospitais e centros clínicos é muito difícil. E, futuramente, poderia até possibilitar uma automamografia do conforto do seu lar.
"Você poderia ter um exame que você vê no seu celular ou poderíamos pensar num cenário em que a gente faz esse exame e envia para uma inteligência artificial, e ela julga se mudou alguma coisa ali", diz Sanches.
Depois disso, o paciente poderia levar esse dado ao médico para que ele direcione o diagnóstico e o tratamento da melhor forma possível. Assim como já acontece com oxímetros ou aparelhos de medição de pressão que são manipulados pelo próprio paciente.
Mas isso é tema para próximos estudos. E você? Faria uma mamografia com um aparelho desses? Ou prefere se ater apenas ao mamógrafo tradicional? Conta aqui nos comentários.